Fábrica de parafusos Marte

Bem-vindos à Fábrica de Parafusos. Depois de uma lista com duas dezenas de nomes inventados por mim, sugeridos por amigos e outros enviados por inbox, “Fábrica de Parafusos” ganhou a corrida do batismo da newsletter. As simbologias e analogias possíveis tanto de “fábrica” quanto de “parafuso” são muitas e todas parecem vir a calhar com a ideia inicial desse “boletim”. Um fato histórico em específico vale ser lembrado: em setembro de 1960, Luís Inácio Lula da Silva foi contratado pela Fábrica de Parafusos Marte, seu primeiro emprego como metalúrgico. Lá ele fabricou parafusos o suficiente para arcar com o curso de torneiro mecânico do SENAI e finalmente completar o ensino secundário. A Fábrica de Parafusos Marte de Lula ficava na Estrada de Lágrimas, no Ipiranga, em São Paulo. O que me leva a outra história.
Eu gosto muito do meu nome. Anos atrás abri um daqueles livros de significado dos nomes e procurei o meu. É difícil encontrar "Mariano" num livro desse tipo no Brasil. Há pouquíssimos Marianos no país. Somos uma minoria de 20 mil pessoas, segundo o IBGE. Na década de 1950 nasceram muitos Marianos, o triplo da quantidade de Marianos surgidos nos anos 1980, quando eu nasci. Finalmente encontrei o meu nome no livro. Havia duas explicações acerca de sua origem. A primeira: "devoto de Maria, mãe de Jesus". A segunda: "vinculado ao deus romano Marte''. Enquanto Mariano e ateu, me interessei mais pela explicação da divindade em desuso. Depois a escolha me pareceu também um tanto infame: Marte era o deus da guerra e protetor da agricultura, o que soa bastante mal hoje em dia, para dizer o mínimo. Por outro lado, Marte foi pai de Rômulo e Remo, os fundadores de Roma, informação mais interessante e que diz respeito ao maravilhoso momento no qual o mito começa a misturar-se com a história. Porém, recuando ainda mais no tempo, é sabido que Marte é a adaptação romana do deus olímpico Ares, filho de Zeus que, na versão grega, era pai de Phobos (o medo) e de Deimos (o terror). Na Ilíada de Homero, por exemplo, Zeus chama Ares de "o deus mais odiado''. Um desastre. Tudo bem. Afinal, os nomes não estão aí para vaticinar o destino de ninguém, muito pelo contrário. Marte, por ser o planeta mais próximo do nosso, suscita ainda hoje uma quantidade considerável de devaneios impraticáveis. Haverá no planeta vermelho água? Alguma forma de vida? Será colonizada por humanos no futuro? Duvido. Uma vez me emocionei ao ver uma matéria na tevê na qual a polícia prendia, por engano, um senhor chamado Mariano da Silva. Foi confundido com um criminoso chamado Marciano da Silva. Eu também me chamo Mariano da Silva. Ao final da reportagem o Mariano chorava aliviado ao sair da cela, dizendo para as câmeras: "eu não sou marciano, eu não sou marciano''. Eu chorei com ele porque também sou daqui. Há momentos em que é preciso reafirmar e defender posições bastante básicas. Portanto, me chamo Mariano, sou ateu, não venho de marte e o marovatto.org é a minha fábrica de parafusos.
Conforme combinado, vocês que me leem por aqui ficam sabendo em primeira mão dos parafusos que tenho fabricado. Hoje, por exemplo, acabo de lançar uma canção. Ela foi gravada para o meu primeiro disco Aquele amor nem me fale, mas acabou ficando de fora. Aquele amor nem me fale está completando 10 anos agora em dezembro. Para comemorar a efeméride, eis este single inédito. A canção se chama "Hesitação". Eu a compus aos 21 anos de idade e desde então a considero a primeira canção "bem acabada" que fiz. Depois, por um tempo, impliquei com a parte da letra que diz "pomar de cerejas" para rimar com "lugar das estrelas". Mas não foi por isso que ela ficou de fora do disco. Na verdade não sei ao certo o motivo, mas desconfio que tenha sido por uma questão de conceito. O disco é bastante calcado na bossa nova e "Hesitação" é uma balada claramente folk, muito por conta das violas caipiras e braguesas de Rafael Papel e do bandolim de Davi Moraes. Aquele amor nem me fale é um disco especial. Foi o primeiro, feito em casa, com calma, ao longo de dois anos com 30 e tantas pessoas que participaram das gravações de suas 9 faixas originais. Desenterrar dos arquivos a gravação de "Hesitação" trouxe as melhores memórias dessa época.
Todo compacto que se preze tem uma música no seu lado B. “Solução” é uma parceria minha com Jonas Sá, feita talvez há mais tempo que “Hesitação”. Revirando os arquivos do primeiro disco eu havia esquecido por completo que tínhamos gravado essa demo, eu cantando e Jonas no violão. “Solução” fez parte de alguns shows, mas de fato nunca foi gravada propriamente. A versão demo, porém, me parece tão justa na sua forma e charmosa na sua qualidade lo-fi que me pareceu o par perfeito para “Hesitação” e para coroar esses 10 anos d’Aquele amor nem me fale.
Clique aqui para escutar Hesitação e Solução no Spotify
ou aqui para saber mais detalhes sobre o compacto.
Espero que curtam!
Beijos e até já,
Mariano
PS: Agora já é possível receber respostas de vocês por aqui. :)