Mariano Marovatto (nome literário de Mariano da Silva Perdigão), nascido em 1982 no Rio de Janeiro, aparece no cenário poético brasileiro num momento marcado pelo pluralismo estético. Como seus companheiros de geração, Mariano fez sua aprendizagem numa época em que o próprio conceito de movimento literário parece ter caducado. Em seu livro de estreia, Mariano demonstra uma formação poética diversificada, a que não falta o conhecimento amoroso dos poetas orientais, e maneja com destreza um verso livre entrecortado, explorando efeitos sonoros e gráficos, valendo-se de imagens surpreendentes (como o oximoro de “a brisa furiosa de teus sorrisos” e a sinestesia de “o ronronar feerico dos teus olhos”). Sua dicção oscila entre dois polos. Um deles, lírico e intimista, sugere uma mitologia pessoal – o tom é oblíquo nas “Ísolas”, apaixonado em “Rosas”. O outro corresponde à voz despersonalizada e irônica da séria “China 1924”, em que até as notas de rodapé se estruturam como poesia. Lirismo e ironia se combinam na seção “Cadernos de Portugal”, um dos pontos altos do livro. Que muitos voos ainda se sigam a este auspicioso Primeiro voo de Mariano Marovatto.
(Paulo Henriques Britto)