Caetano, Cage e Satie

Em 4 dias darei um curso. Um mini-curso. Na realidade é um micro-curso. Serão duas aulas, de uma hora e meia cada, sobre uma interseção específica entre três autores e seus respectivos universos. Cada um, na sua vanguarda, divide um mesmo interesse em comum: o otimismo.
Os vanguardistas otimistas são: Caetano Veloso, John Cage e Erik Satie.
A ideia me veio quando Caetano e Paul B. Preciado, numa mesa da Flip via YouTube realizada em dezembro do ano passado, ousaram em falar que são otimistas, apesar do estágio avançado do apocalipse que nos encontramos agora. Enquanto Paul disse, de forma libertária, que era um "otimista patológico", Caetano respondeu ser um "otimista programático". Reafirmou ali, aos 78 anos, a missão que persegue há mais de cinco décadas: apostar na capacidade do Brasil vir a ser o país mais importante do planeta. Uma trilha que, ele sabe, talvez o país nunca trilhe. Mas é uma trilha que pertence somente ao Brasil.
Meses depois, relendo o Silêncio do John Cage (provavelmente por conta do curso Palavra, Música, Ruído que inventei e dei em março passado. Oi turma!), me caiu a ficha. Por que não juntar Caetano e Cage? E mais: por que não adicionar a eles, Erik Satie, um otimista ainda mais estranho?
Então rabisquei a ementa do curso:
Prurido dos puristas, iconoclastas da alegria, otimistas programáticos, sediciosos sedutores: Caetano Veloso, John Cage e Erik Satie possuem mais afinidades entre si do que aparentam. Os três entraram em todas as estruturas culturais (normativas, herméticas) do século XX e saíram de todas. Os três foram epicentros de suas respectivas vanguardas. O baiano, o californiano e o parisiense apostaram no lúdico e na utopia e provocaram mudanças irreversíveis na cultura e na sociedade onde atuaram.
O minicurso então pretende traçar aproximações estéticas, políticas e biográficas entre os três autores à luz do nosso presente distópico, obscuro, nunca antes tão incerto. Me deu uma alegria genuína elaborar essas duas aulas porque pude desenhar um programa propositivo, lúdico, esperançoso, a partir de três ídolos.
Sigo reafirmando há anos que Caetano Veloso é o artista brasileiro vivo mais importante. Quiçá de todo o século XX. Já minha admiração por John Cage está expressa lá no posfácio do Silêncio, que escrevi após dar cabo do projeto da tradução do livro para o português (obrigado, editora Cobogó!). Silêncio é o livro mais revolucionário sobre música escrito nos últimos cem anos. No mínimo. Por fim, antes de Cage, está o seu mestre Erik Satie, o compositor que entortou a música clássica ocidental. Satie, olho do olho do furacão, ditou uma série de vanguardas: do impressionismo ao dadaísmo, alcançando o surrealismo no fim da vida. O que os três empreenderam no ocidente, ninguém empreendeu. E todos tornamo-nos seus devedores. O curso vai ser bacana.
Onde vai ser? No seu computador, graças à Capivara Cultural, que abriga uma belíssima seleção de cursos sobre literatura e música.
Quanto vai custar? R$ 140,00 a serem pagos na plataforma Sympla. A Capivara também concede bolsas com 50% de desconto para estudantes de graduação e pós; para bolsistas CAPES/CNPq e de outras agências públicas e também para pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, por questões de raça, gênero ou orientação sexual.
Quando vai acontecer? Nos dias 26 e 27 de maio (quarta e quinta-feira), das 19hs até às 21:30 pelo Zoom.
Para se inscrever é só clicar aqui. Quem puder, será um prazer vê-los por lá também.
Beijos!